Em trinta anos de
carreira política, Temer se portou sempre com discrição, evitou polêmicas e
mediu cuidadosamente cada palavra dita, a fim de se equilibrar entre interesses
diversos e muitas vezes contraditórios. Aos olhos do público, tornou-se o
retrato do político sem sal. Nos bastidores, no entanto, consolidou-se como um
especialista na arte de trabalhar em silêncio, costurar acordos de coxia e
escalar degraus na hierarquia do poder. Mesmo sem despertar paixões, Temer
conquistou três vezes a presidência da Câmara dos Deputados e elegeu-se duas
vezes vice-presidente da República. Mesmo sem brilhar nas urnas, prepara-se
agora para o maior desafio de sua trajetória.
Temer e caciques do
PMDB, partido que ele preside, estão certos de que Dilma Rousseff será cassada
no começo do próximo ano. Em vez de ajudá-la, querem substituí-la. E o plano,
ousado, vai muito além da simples intenção. Eles já têm em mãos uma tese
jurídica para garantir a posse do vice, uma proposta destinada a tirar a
economia da UTI e até alianças fechadas no Congresso.
A presidente Dilma
Rousseff, como se sabe, enfrenta um momento inédito de fragilidade. Não tem
apoio popular nem parlamentar, lida com um cenário de recessão e inflação e
está ameaçada pela possibilidade de abertura do processo de impeachment. Além
disso, corre o risco de ter o mandato cassado pela Justiça Eleitoral, caso seja
acolhida a denúncia de que abusou de poder político e econômico, incluindo
dinheiro sujo do petrolão, para se reeleger. É justamente na frente aberta no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que Temer e o PMDB apostam para assumir o
governo.
As ações na corte têm a
chapa Dilma e Temer como alvo. A estratégia do peemedebista é separar a análise
das contas de campanha da presidente da análise das contas de campanha do vice.
A meta é imputar os crimes cometidos apenas à mandatária, excluindo o vice de
eventual punição, o que lhe daria o direito de ascender ao cargo de presidente.
Especialista em direito
constitucional, Temer elaborou de próprio punho um parecer preliminar que, em
sua avaliação, permite ao TSE desvincular as duas contas. O texto já foi
apresentado a ministros de tribunais superiores, juristas renomados e
especialistas em direito eleitoral. A receptividade animou Temer.
Com reportagem de Hugo
Marques








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