Deslocado por Jair
Bolsonaro da periferia da Câmara para o epicentro do poder, Onyx Lorenzoni, o
ministro extraordinário da transição de governo, experimenta a sensação de
enfiar um dedo na fava de mel, lamber o dedo e vislumbrar as dádivas do mundo.
Porém, Onyx talvez tenha de começar a fugir das abelhas antes mesmo de chegar
ao Planalto. A maldição da Casa Civil chegou mais cedo para ele.
Mede-se o tamanho da
encrenca pela quantidade de veneno estocado. A banda militar do futuro governo
acha que Onyx puxa o tapete do general Oswaldo Ferreira, hoje um
ex-quase-futuro-superministro da Infraestrutura. A ala política avalia que Onyx
coloca azeitonas demais na empada do seu partido, o DEM. Escanteado, o PSL
lança fachos de luz na direção dos pés de barro de Onyx.
Colecionador de
desafetos, Onyx é assediado por uma síndrome que costuma perseguir os ocupantes
do principal gabinete do quarto andar do Palácio do Planalto: a praga dos
superpoderes. Para complicar, os superpoderes do futuro chefe da Casa Civil
começam a esbarrar em superpoderes maiores do que os seus —como os do clã
Bolsonaro e o de Paulo Guedes, o Posto Ipiranga.
Na era petista, a Casa
Civil foi ocupada por seis personagens. Um está prestes a voltar para a cadeia
(Dirceu), outro está atrás das grades (Palocci), uma terceira foi fisgada na
Operação Zelotes (Erenice), dois encrencaram-se nas franjas da Lava Jato
(Mercadante e Gleisi) e uma outra sofreu impeachment depois de ser vendida ao
eleitorado como supergerente impecável (Dilma). Sob Temer, a Casa Civil abriga
matéria-prima para a Polícia Federal (Padilha).
O que distingue Onyx de
superministros que o antecederam é o fato de que, no seu caso, a urucubaca
chegou antes da posse. Quando encostou seu mandato no projeto político de
Bolsonaro, Onyx considerava-se capaz de fazer o bem para o capitão. Hoje, ele
precisa verificar se consegue parar de fazer mal a si mesmo.
Fonte: Josias de Freitas
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